domingo, 7 de agosto de 2011

Pérolas chinesas de qualidade invadem mercado


Keith Bradsher, do The New York Times - O Estado de S.Paulo



Um dos homens mais temidos atualmente na indústria mundial das pérolas é um musculoso empresário de 40 anos que dirige uma Ferrari e está fazendo o impensável: cultivando pérolas de altíssima qualidade cujo preço pode ser mais acessível para as famílias americanas de classe média.


O empresário, Zhan Weijian, administra uma grande empresa na emergente capital mundial da indústria de cultivo de pérolas de água doce, distante do Taiti e de outros tradicionais santuários de pérolas de água salgada no Pacífico. Zhan trabalha na região centro-leste da China, onde suas pérolas brancas custam uma fração do preço cobrado pela variedade cultivada em água salgada.

No atacado, os preços para as pérolas brancas de meia polegada caíram aproximadamente 30% nos últimos anos, resultado da turbulência que o afluxo de pérolas chinesas de alta qualidade - cultivadas em antigos arrozais - causa no setor. A China tem sido a maior produtora mundial de pérolas nas últimas duas décadas, inundando o mercado com pérolas pequenas e baratas de qualidade equiparável à de bijuterias. Mas, agora, empresas como a de Zhan estão usando novas técnicas para ingressar no mercado de pérolas de alta qualidade, de dimensões que vão de meia até quase uma polegada.

"A concorrência da China nos prejudicou, sem dúvida", disse Robert Wan, cuja empresa, a Robert Wan Tahiti, domina a produção de pérolas taitianas - cultivadas em moluscos de água salgada e corresponsáveis por estabelecer o padrão mundial de qualidade.

"Os preços estão baixos", disse Wan. "E, se em um ou dois anos eles aumentarem a oferta, veremos o que vai acontecer".

A indústria de pérolas da China é como uma representação microcósmica de como o país está indo além de empregos de baixa remuneração e passando a imitar os produtores estrangeiros. As fazendas de pérolas, como todas as demais indústrias da China, estão começando a inovar e se automatizar na medida em que os salários aumentam, particularmente para o operariado. "Os Estados Unidos se preocupam com a produção de bens baratos por parte da China, mas deveriam na verdade se preocupar com a produção de bens de qualidade por parte da China", disse Bruce Rockowitz, diretor executivo da Li & Fung, a maior fornecedora de bens de consumo fabricados na China para as redes de varejo americanas.

Uma pérola chinesa de meia polegada custa de US$ 4 a US$ 8 no atacado, preço que costuma equivaler a menos da metade do preço de varejo. Uma pérola taitiana de tamanho semelhante custa no atacado de US$ 25 a US$ 35. A disparidade de preço reflete diferenças persistentes na tonalidade e no brilho. Não é preciso um joalheiro para perceber a diferença quando as pérolas chinesas são colocadas ao lado das pérolas de água salgada.

Joel Schechter, diretor executivo da Honora, uma das maiores importadoras de pérolas chinesas em Manhattan, foi recentemente ao cofre de aço de sua empresa, perto da Avenida Madison, e escolheu dois colares caros de algumas de suas melhores pérolas de meia polegada, sem manchas. O colar de pérolas do Taiti, com preço de atacado de US$ 14 mil sem fecho, apresentava um brilho branco prateado em sua mão. Ao lado dela, a variedade chinesa também brilhava, sem manchas e perfeitamente redonda, mas apresentava um tom mais amarelo e esverdeado.

Vendido por US$ 1,8 mil no atacado, o colar da variedade chinesa também tem um preço bem menos lustroso. A entrada da China nesse segmento do mercado, disse Schechter, "tornou as pérolas mais acessíveis para a mulher trabalhadora comum".

Zhan, que está se tornando cada vez mais rico com pérolas mais baratas, é diretor executivo da Grace Pearl, uma das maiores empresas de Zhuji, cidade na província de Zhejiang. A Grace cultiva pérolas em Zhejiang e, com o aumento dos custos imobiliários e de mão de obra, também no interior, nas províncias de Jiangxi, Hunan, Anhui e Hubei.

Zhan levou um visitante até Zhuji em seu sedã Maserati Quattroporte marrom, pilotado por um motorista. "Quando sou eu mesmo quem está no volante, prefiro dirigir a Ferrari 360. É mais divertido", explicou ele, a caminho do jantar. A refeição incluiu uma sopa de tartaruga silvestre, um prato cada vez mais raro.

Apesar de feliz com a receptividade que as pérolas brancas de meia polegada da Grace estão encontrando, Zhan parecia mais orgulhoso de uma inovação que ele chamou de pérolas Edison - esferas em tons vívidos de púrpura, cor-de-rosa e bronze, raramente vistos antes, exceto em pérolas tingidas e em tamanhos de até três quartos de polegada.

Apesar de ele e a Grace guardarem a sete chaves o segredo de sua técnica, Zhan disse que eles veem a Edison como emblemática da crescente sofisticação científica e tecnológica da produção chinesa de pérolas. Elas levam o nome de Thomas Edison, apesar de esta parecer uma falsa homenagem. "Apesar de toda sua inteligência, Edison não podia inventar pérolas nem diamantes", disse Zhan

Genética. A Grace está trabalhando em parceria com a Universidade Zhejiang em um esforço para sequenciar todo o genoma dos mexilhões nos quais as pérolas de água doce são cultivadas, na esperança de usar a informação para o desenvolvimento de pérolas ainda melhores. Zhan não quis revelar em qual de suas fazendas de pérolas as Edison estavam sendo cultivadas, dizendo apenas que nenhuma era próxima de Zhuji, onde a informação tende a chegar rapidamente à concorrência.

Zhan Yi, um alto executivo da Grace, estava ao lado de um plácido lago de pérolas próximo de Zhuji na manhã seguinte, observando enquanto trabalhadores que recebem de US$ 15 a US$ 23 por dia se sentavam em bancos diante de uma longa mesa. Usando pinças, eles inserem pedaços minúsculos de tecido de mexilhão dentro das conchas de mexilhões vivos.

O tecido ajuda a criar as pérolas, que podem levar um ano ou dois para atingir o tamanho pleno. Para as pérolas Edison, mexilhões selecionados por pesquisa genética recebem o implante de minúsculas contas em vez de tecido de mexilhão, disse Zhan Yi. As contas são inseridas por meio de um método especial que a empresa não revela.

Empresas como a Grace estão recorrendo à automação, pois a mão de obra representa até um terço do custo do cultivo de pérolas e da árdua tarefa de separar manualmente toneladas de pérolas por cor, tamanho, forma e quantidade de manchas. Nos últimos três anos os salários dos operários quase dobraram em Zhuji e em algumas outras províncias costeiras à medida que cada vez menos jovens chineses estão dispostos a aceitar a vida monótona do trabalho em fábrica, preferindo frequentar as universidades.

Além disso, os trabalhadores mais velhos do ramo das pérolas frequentemente perdem a habilidade necessária, e estão rapidamente desaparecendo. "Eles trabalham até os 37 anos e depois a visão deles piora", devido aos anos olhando com olhos semicerrados para as pérolas sob luzes fluorescentes, disse Qiu Xian, diretor de pesquisa da Grace.

Qiu mostrou as máquinas experimentais de separação projetadas por ele. Cada máquina solta uma pérola a cada poucos segundos e a fotografa a partir de várias direções diferentes enquanto ela cai. A máquina avalia instantaneamente as fotos, então apanha a pérola e a encaminha para uma cesta de pérolas semelhantes. Cada uma das máquinas pode funcionar por 24 horas por dia, disse Qiu, e poderá substituir 15 trabalhadores.